Crepúsculos
Em mais um daqueles fins de tarde, oportunistas da inoportuna tradição, vagueiam pela avenida de raizes nas mãos, na avenida em que jazem troncos negros que se assemelham a corpos nús elevando-se perante os céus de flores ardentes que percorrem os seus longos e duros braços, um tom angústiante violáceo anúnciam-nos a chegada, corpos suados; toco á campainha; pé ante pé continuo, degrau a degrau continuo, chego, sem mais para dizer vejo do ponto mais alto as chamas que fervem a avenida, corpos felizes, que tentam continuar felizes,volto para dentro, sentado está á beira de uma guerra consigo mesmo, aquele mesmo espirito que ali me espera todos os dias desde há duzentos anos, e continuará na passagem das horas enquanto lá fora ardem os lampiões perante uma calçada de vidas, e vivo, e morro mil vezes, e ao teu lado, eternamente aqui ficarei, sentada observando contigo o crespúsculo imortalizado na nossa alma, nunca terás um fim de tarde como este, nunca mais terás um 25 de Maio como este, nunca mais terás um céu cor-de-rosa de nuvens azuis banhado por um ar quente sem aragem e foi assim que ficámos, fomos com ele, assim lentamente fundindo-se no horizonte quase como um abraço eterno com a terra,
e morro mil vezes